quinta-feira, 13 de maio de 2010

Banzo


Eram como manadas de bois, em carros de bois, vida de bois. Contudo, bois não haviam. Mãos negras sim! Mãos que fariam a história dessa terra, mãos que contrastavam com o algodão branco colhido. Artigo de luxo! Cousa que negrinho “tu” jamais vestiria.
“Dentes brancos e fortes... Esse eu quero!” disse o senhor de engenho feliz ao saber que estava acabando de adquirir mais um negro através de um escambo barato. “Vendido!” exclamou o conterrâneo burguês, com seu odor fétido de navio negreiro, sem saber que acabara de propagar o conceito capital. Conceito no qual retiraria os bens providos da melanina. A saudade da mãe África era tão grande que até os mais fortes não suportavam, a tristeza vos dominavam e os derrotavam como fossem pragas.
“Luanda suncê é livre! Não se rendeu aos capricho de sinhazinha branquela mimada” dizia com orgulho Zaudé, após seu rebento, à beira de um rio seio da rainha das águas, a qual acalmava a alma daquele povo que tanto sofria. Passou o tempo... Luanda vingou como o café em terra fértil, todavia Zaudé não tinha mais aquele vigor de outrora. Sua mocidade tinha sido repassada e traduzida em coxas grossas e silhueta afinada de Luanda. Silhueta capaz de reluzir o brilho nos olhos azuis de Fernando, filho do Barão, este que deu a Luanda os mesmos pares de olhos azuis.
- Ora! Acha mesmo que Zé preto da cara cinzenta da perna cinzenta daria fruto mulato...
De que valeria aquela alforria de nascença se nada poderia mudar. “Mãos ótimas que tens Luanda, seremos grandes amigas. Papai jamais te castigaras de novo” dizia a sinhazinha de sangue azul contrariando o desejo de dona Zaudé, que agora de volta ao mesmo rio onde banhou-se em batismo, foi molestada e por votos de felicidades pariu Luanda, aguarda com tristeza e saudade.
O sorriso é a manifestação dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procura.


Texto do amigo Edson Rosa.

Esse texto é um pequeno retrato em forma de estro do que aconteceu nos tempos do Rei. A escravidão é ato mais hediondo que o ser humano pode fazer pelo outro. Não podemos renegar essa história. Assim como não podemos aceitar de forma contemplativa o ato da Princesa Isabel. Olhar a história com olhos de Poliana é o que nos passam nos bancos escolares. A classe dominante, católica, capitalista e outros adjetivos que expressam esse paradigma vigente fincaram seus pilares sobre a égide da deturpação e esquecimento da história. Valorizemos os que sofreram para construir esse país e sigamos lutando para a verdadeira abolição da escravatura.

2 comentários:

Ricardo Valente disse...

... é... o passado, nem sempre é História!
Abração de cá, guri!

Anônimo disse...

Brasil mostra sua cara!!!
Achado de Anis